home
m
 
banhos de luz

Banhos de Luz – A Seurat

Luís Alves da Costa
www.vida.pt
Julho de 1999

Até final de Julho, a Palmira Suso apresenta-nos os últimos trabalhos de José Domingos Rego, como homenagem a Georges Seurat, nascido em Paris, há exactamente 140 anos.
Menos conhecidos do que os poderosíssimos ícones de óleo que o celebrizaram, os estudos prévios de Seurat, e a sua importante produção no âmbito do desenho, são eloquentemente recordados na proposta do artista português. Pela maior ou menor intensidade, pela simples variação da pressão da ponta do lápis Conté na rugosidade própria do papel, Seurat opunha sólidas massas negras a súbitas emergências luminosas, explorando todos os tons intermédios de cinza.

Célebre em Inglaterra e nos Estados Unidos, os quadros de Georges Seurat prestaram-se, mesmo, a animações, como a de Stephen Sondheim, que, na sua comédia musical, “Sunday in the park with George”, se permitiu, na Broadway, fazer reviver as majestáticas personagens de “Un dimanche après-midi à l’île de la Grande Jatte”.

Fascinado pela técnica de Seurat, e desde há muito seu estudioso, Domingos Rego propõe-nos agora uma ficção temporal, mas, desta vez, a partir dos intervenientes de “Une baignade à Asnières”. À questão “o que poderia ter sucedido a estas personagens, depois do instante em que Seurat as imortalizou?”, responde o artista com rotações, torsos que se estendem, um mergulho que a nova perspectiva enfatiza, o cão que se destaca da relva. Envolvidas numa mesma animação centrífuga, são estas personagens que aqui dão origem à série de quadros de Domingos Rego.

Ao contrário do mestre francês, Domingos Rego opta pela superfície da tela, como suporte para os seus desenhos. Dotadas de uma rugosidade diversa do papel, o artista trabalha-lhes a textura, criando acidentes, acentuando clivagens, potenciando os pormenores de maior expressividade. As formas destacam-se, assim, em volumes enfatizados, obtidos por todo o naipe de variação de pressão do lápis de óleo. Ao contrário do puro jogo claro-escuro de Seurat, Domingos Rego envereda aqui por algumas soluções onde o fundo é garantido por tonalidades pastel discretas.

crítica
 
Voltar ao topo
o