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sete virtudes, sete vícios

Sete Virtudes, Sete Vícios

Rogério Ribeiro

Com a complexidade que o tempo alimenta e das marcas que vai, necessariamente, deixando, surgem ou/e permanecem artistas cujo caminho se atina e afinca na busca do despojamento daquilo que se designa (para abreviar) simplicidade, riqueza de algo que é o restante, que é o essencial e sublime da construção da imagem. Melhor dito, da construção da pintura.

Domingos Rego afirma-se através de um percurso artístico que, desde a “Escola”, vem marcando a sua rota por uma diversidade formal e temática, sustentada por bases de opção e que, como um sulco íntimo, se mantém. Refiro-me ao apuramento táctil, ao rigor do fazer, ao sentimento apurado do acabar, à riqueza despojada, que, depois deste aturado labor, o quadro acusa e representa como ponte de exigência e como prova provada de amor.

Seja Giotto, a quem apela nesta exposição, seja Seurat, com quem antes conversou, é deste alimento reflectido que Domingos Rego vai levantando entre trabalhos o seu trabalho de pintor, o que lhe garante uma serenidade e um sentido de imediato necessário ao nosso tempo.

Necessário, enquanto uma forma de desacelerar e evitar gerar movimentos bruscos e por isso perigosamente acidentais, elegendo (entre os tantos possíveis) um tempo introspectivo e de reflexão.

Nesta exposição Domingos Rego apresenta sete pinturas e sete desenhos, numa divisão simétrica entre “virtudes” e “vícios”. O “7” não é um algarismo isento de responsabilidades e cargas simbólicas (sete dias da semana, sete planetas, sete graus de perfeição...) que, por diferentes caminhos, intervêm nestes trabalhos, nestes dois conjuntos de “7”. No entanto, aqui também enquanto súmula das três virtudes teologais (fé, esperança e caridade) e das quatro virtudes cardeais (prudência, temperança, justiça e força). Fugindo de um caminho mais facilitador e percorrido, o do teologismo, a sua figuração consubstancia a pertinência e actualidade destas reflexões a um tempo tão singulares e tão plurais.

Porém, o “7” alimenta uma outra expectativa enquanto indicador da passagem do conhecido para o desconhecido. E é, exactamente, esta expectativa que cada exposição de Domingos Rego acaba sempre por gerar.


Setembro de 2000

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