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sete virtudes, sete vícios

Sete Virtudes, Sete Vícios

Celso Martins
Expresso
Setembro de 2000

Depois de uma incursão no universo de Seurat ("Une Baignade à Asnieres"), Domingos Rego volta a colocar a sua pintura sob o signo de uma referência, agora a Giotto. Rego parte das representações dos painéis das “sete virtudes e sete vícios” da Capela Scrovegni em Pádua, conservando deles o carácter alegórico e a dicotomia moral. Nas sete pinturas representando as virtudes e nos desenhos a que correspondem os vícios, Rego marca texturas e volumes de modo vincado, por forma a acentuar nelas uma carnalidade e consistência física que as resgata da condição de meras figuras simbólicas exemplificativas de uma determinada condição ética. O próprio carácter falsamente acidental de cada cena, como se de descuidadas polaroids se tratasse, bem como o facto de se tratar de personagens saídas de um mundo contemporâneo, acentua a sensação de realidade que elas transportam, tomando mais suave a presença da alegoria. Também isso nos avisa que Rego não pretende recuperar o gesto moral de Giotto, tratando-se antes de uma elaboração em tomo da construção desses modelos e da sua transposição para um tempo com outras imagens e outros modos de as construir. O facto de aliar o rigor técnico à consistência e independência conceptual evita ainda um efeito de reverência que poderia ser paralisados.

crítica
 
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