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ócio

Ócio

Celso Martins
Expresso
Janeiro de 2005

Se a pintura de Domingos Rego se tem desenvolvido nos últimos anos sob o signo da reinterpretação do universo de outros pintores (Seurat, Giotto), fazendo da história da arte um manancial de questões plásticas a reinventar, na presente exposição não invoca outros discursos, ainda que utilize como prévio material de trabalho imagens fotográficas. A série apresentada intitula-se «Ócio» e, precisamente, parte de imagens fotográficas que fixaram momentos de divertimento e férias quase sempre junto ao mar, entendido como «território natural do ócio», para citar o texto particularmente articulado do próprio artista. As pinturas mostram cenas com pessoas praticando desportos náuticos ou mergulhando no mar. Quase todos os quadros supõem dois planos: o dos acontecimentos, vistos ao longe, e um outro, marcado pela presença de vegetação, que é o próprio lugar do observador distanciado («voyeur»?) e imune. Mas a transição da imagem fotográfica para a pintura, que aqui se produz, induz uma outra transformação: a passagem do instante fotográfico ao lento fazer da pintura (que começa no olhar e acção do pintor e depois se prolonga no observador) como uma metáfora do ócio ou da disponibilidade para ver.

crítica
 
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